“Aquilo a que devemos empenhar-nos é em que nos nossos filhos nunca venha a faltar o amor pela vida”, escreve Natalia Ginzburg em As Pequenas Virtudes. E a mais alta expressão do amor pela vida surge quando uma pessoa encontra uma vocação, completa a italiana. Nesse breve ensaio que dá título ao livro, Ginzburg reflete sobre a educação aos filhos, como prepará-los para o que enfrentarão no futuro. Ajudá-los a encontrar uma vocação é, defende a escritora, a tarefa mais importante. “Uma vocação, uma paixão ardente e exclusiva por alguma coisa que nada tenha que ver com o dinheiro, a consciência de poder fazer alguma coisa melhor do que os outros, e amar essa coisa acima de tudo, é a única e exclusiva possibilidade (…) de ser livre frente ao dinheiro”.
Como podem os país contribuirem para o despertar uma vocação nos seus filhos? Dando-lhes espaço e silêncio, responde Ginzburg. E se foram capazes, os pais, de deixar germinar dentro de si as suas vocações, isso também ajudará, através do exemplo, os filhos na busca das suas (“porque o amor pela vida gera amor pela vida”).
Um adulto pode nunca ter encontrado uma vocação ou tê-la abandonado ou traído, por cinismo, medo de viver ou outros motivos, pondera a ensaísta. O que ela não “ensina” é como se identifica uma vocação, mas talvez não seja tão difícil. Ou não é muito evidente quando encontramos na vida uma “paixão ardente”?
Uma vocação, uma paixão ardente e exclusiva por alguma coisa, será que fui capaz de encontrar a minha? E os meus amigos, as pessoas próximas, aquelas por quem me importo, tiveram sorte nessa busca? Não me parece tão clara a resposta, mas talvez eu esteja confundindo vocação com talento, com dom. Ao que parece, não se trata de encontrar algo em que você seja o/a melhor, mas algo que você faça com alegria e dedicação, da melhor maneira possível, sem se importar se aquilo trará reconhecimento, fama, dinheiro. Então sim, acho que posso dizer até que tenho vocações (e identifico, nos meus, as suas). Reparo agora que Natalia Ginzburg nunca fala da vocação no singular, não é “a” vocação senão é “uma”, o que me leva a crer que podemos - diria até que devemos - ter várias durante a vida. Ou não é uma bela maneira de fazer essa caminhada? Ir por aí colecionando vocações, apaixonando-se ardentemente por coisas que vão dando sentido à existência, mantendo sempre vivo o nosso amor pela vida - que gerará mais amor pela vida.
Ginzburg, mestra! ❤️🌹
Natalia é uma das minhas escritoras preferidas. Sou apaixonado por esse livro.