Por que?
O ser humano é um animal que se contradiz, não é verdade? Cansado das redes sociais, de passar muito tempo diante do computador e do telefone, de gastar muitas horas nesse mundo virtual, decidi criar uma newsletter que em tese me fará passar ainda mais tempo preso à internet. Mas talvez não seja assim, imagino este espaço como uma maneira de me comunicar com quem é próximo (na vida real ou virtual) com certa frequência. Penso em falar aqui sobre o que tenho lido, ouvido, visto, escrito e pensado durante a semana. Será como mandar para um grupo de amigos/as um áudio de Whatsapp e alguns links sobre o que tem ocupado a minha cabeça. Fazendo assim um envio massivo, talvez assim sobre mais tempo para viver a vida off-line.
Tomo esta como uma edição piloto, um número 0, da newsletter. Tentarei escrever uma vez por semana, sempre às sextas. Críticas, sugestões e elogios serão bem-vindos.
Do genial André Dahmer
Pensamento da semana
A escritora espanhola Laura Ferrero conta que quando era criança costumava reclamar da falta de sorte da família. Por que nunca ganhamos na loteria, perguntava. Um dia o pai respondeu que a única coisa que pedia era que o número deles nunca saísse na “má loteria”, aquela das doenças, das tragédias, do pior que pode acontecer na vida de alguém.
Tenho tentado controlar a tendência de reclamar de falta de sorte e de alimentar a autocomiseração. Quando sinto vontade de me queixar da vida e do destino, lembro dessa frase da Laura Ferreiro e penso que afortunadamente (alguns dirão graças a Deus) nada de terrível aconteceu na minha vida - e nem na daqueles que me são próximos. Passar incólume dessa outra loteria, a loteria do pior, não deixa de ser uma espécie de sorte também.
No toca-fitas
Sendo eu um moderado consumidor de carnaval, esta semana botei para tocar este sambinha calmo da Marisa Monte.
ps: acho muito bonito como os instrumentos vão entrando devagar na música, quase que pedindo licença, e vão formando um coro que fala baixinho, sussurrante.
No videocassete
“Perfect Days”, do Win Wenders, porque talvez o segredo para uma vida boa seja ter (e falar) o mínimo.
Na mesa de cabeceira
Sou fã de carteirinha da Leila Guerriero, cada texto dela é uma aula para quem gosta de (e/ou faz) jornalismo. Estou agora lendo “La llamada”, um livro em que ela conta a vida de Silvia Labayru, uma mulher que aos 19 anos foi presa pela ditadura argentina e deu a luz na ESMA - o maior e mais temido centro de tortura e “desaparecimento” do regime. Leila constrói de uma forma primorosa um retrato, como diz o subtítulo do livro, de uma mulher interessantíssima e também de um tempo convulso.
A frase da semana
“A partir de certa idade, tão importante como entrar é saber como sair do carnaval”
Lucas Ferraz
Legal, Ricardo. Seguindo. E já passa da hora de a Leila Guerriero ser editada no Brasil.
Gostei da newsletter! Vou acompanhar toda semana.